Você é Pai ou Mãe? Talvez Esteja Criando Monstros...

Entenda como atitudes na infância moldam o comportamento adulto — e por que educar sem violência é um passo essencial para criarmos pessoas emocionalmente saudáveis.

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Por Gabriel Ricardo

5/6/20253 min ler

Antes que soe como acusação, vamos respirar juntos e entender do que se trata essa provocação. Não estamos falando de monstros de verdade, mas de adultos que, ao crescerem, têm dificuldade em lidar com frustrações, que recorrem à raiva como resposta automática a conflitos ou que não conseguem exercer empatia e escuta. E essa realidade, mais comum do que parece, tem raízes que muitas vezes voltam à infância — mais especificamente, à forma como fomos educados.

A semente do comportamento adulto

Durante a infância, nosso cérebro está em plena formação. É nesse período que aprendemos não só palavras e números, mas também como reagir diante do "não", como lidar com o erro, o medo, a frustração e, principalmente, com os outros. Quando a violência — física ou verbal — entra como ferramenta de correção, o que se instala é um modelo mental de que força resolve, que quem grita tem razão, que quem bate está certo.

Não é à toa que tantos adultos crescem com impulsos agressivos, baixa tolerância à frustração e dificuldade em manter relações saudáveis. Não estamos falando aqui de pessoas ruins, mas de pessoas mal orientadas. E a boa notícia é: isso pode ser diferente.

O que a ciência já sabe

Diversos estudos apontam que punições físicas, gritos ou humilhações não tornam a criança mais obediente a longo prazo. Pelo contrário: aumentam os riscos de ansiedade, depressão, comportamentos agressivos e até problemas de aprendizado. A curto prazo, pode até parecer que "funcionou". Mas a que custo?

Quando se educa pelo medo, o respeito é substituído por insegurança. E mais tarde, esse medo pode se transformar em raiva — dos pais, da sociedade, de si mesmo.

Educação é construção, não imposição

Educar é uma jornada que exige paciência, presença e intenção. Em vez da violência, o caminho da escuta, da conversa e da consistência nos limites costuma gerar resultados muito mais sólidos. Crianças precisam de afeto, de explicações claras e de exemplos coerentes. Mais do que ouvir "não pode bater", elas precisam ver que nós também não batemos.

Isso não quer dizer que será fácil. Ninguém acerta o tempo todo. Mas reconhecer a importância da educação não-violenta é um passo poderoso — e possível — para quebrarmos ciclos.

Um convite à reflexão (e à ação)

Se você chegou até aqui, talvez já esteja repensando certas atitudes. E isso é ótimo. Criar filhos com empatia, firmeza e respeito não só transforma a vida deles, como ajuda a construir uma sociedade mais equilibrada e segura. Não se trata de permissividade, mas de ensinar com intenção. De formar adultos que saibam resolver conflitos com diálogo, que saibam ouvir e, principalmente, que não precisem recorrer à violência para se sentirem fortes.

Bônus para quem chegou aqui:

Exemplos práticos de educação sem violência:

1. Substituir punições por consequências naturais e lógicas
Se a criança esqueceu o brinquedo no parque, em vez de gritar ou punir, permita que ela experimente a consequência natural (ficar sem o brinquedo) e converse sobre responsabilidade.

2. Ensinar pelo exemplo
Se você deseja que seu filho resolva conflitos com diálogo, mostre isso na prática. Evite gritar, e peça desculpas quando errar. Isso ensina mais do que qualquer sermão.

3. Validar sentimentos e ensinar regulação emocional
Quando a criança está irritada ou frustrada, nomeie o sentimento com ela (“eu entendo que você está bravo”) e ajude a encontrar formas saudáveis de lidar com isso, como respirar fundo ou contar até 10.

4. Estabelecer limites com firmeza e afeto
Ser gentil não é ser permissivo. É possível dizer “não” com amor e firmeza, explicando os motivos e ouvindo a criança, mas mantendo o limite.

Sugestões de leitura e recursos:

Livros:

  • "Disciplina Positiva" – Jane Nelsen
    Uma introdução prática e acolhedora à educação com respeito e limites.

  • "Como Falar para seu Filho Ouvir e Ouvir para seu Filho Falar" – Adele Faber e Elaine Mazlish
    Técnicas de comunicação que fortalecem o vínculo e reduzem os conflitos.

  • "Criando Meninos / Criando Meninas" – Steve Biddulph
    Reflexões sobre o desenvolvimento emocional e as necessidades específicas das crianças em diferentes fases.

Documentários e vídeos:

  • “O Começo da Vida” (Netflix)
    Mostra como os primeiros anos moldam o adulto que seremos — com enfoque no afeto e na segurança emocional.

  • TED Talk: "O poder da vulnerabilidade" – Brené Brown
    Não é sobre educação diretamente, mas ajuda a entender a força dos vínculos afetivos, inclusive com os filhos.

Recursos gratuitos online:

  • Canal do YouTube “Paizinho, Vírgula!”
    Traz conteúdos acessíveis e reais sobre paternidade ativa, empatia e disciplina não violenta.

  • Instituto Alana (alana.org.br)
    Produz estudos e conteúdos sobre infância, educação e direitos da criança.

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